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Tag Archives: olhares acidentais

Quem teve a ideia

de cortar o tempo em fatias,

a que se deu o nome de ANO,

foi um indivíduo genial,

industrializou a esperança,

fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano

se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação

e tudo começa outra vez,

com outro número e outra vontade de acreditar

que daqui por diante vai ser diferente.

Carlos Drummond de Andrade

art-asseptica

(found in: http://3.bp.blogspot.com/_N8SUTnnAwU4/R4bcH4c_AyI/AAAAAAAAB50/A_Sluk7uxuY/s400/art-asseptica.jpg)

Inflama-me, poente: faz-me perfume e chama;
que o meu coração seja igual a ti, poente!
descobre em mim o eterno, o que arde, o que ama,
…e o vento do esquecimento arraste o que é doente!

 

Juan Ramón Jiménez

a vida é como um filme, com banda sonora e tudo…

 

Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca,

Palavras de amor, de esperança,

De imenso amor, de esperança louca.

 

Palavras nuas que beijas

Quando a noite perde o rosto,

Palavras que se recusam

Aos muros do teu desgosto.

 

De repente coloridas

Entre palavras sem cor,

Esperadas, inesperadas

Como a poesia ou o amor.

 

(O nome de quem se ama

Letra a letra revelado

No mármore distraído,

No papel abandonado)

 

Palavras que nos transportam

Aonde a noite é mais forte,

Ao silêncio dos amantes

Abraçados contra a morte.

 

Alexandre O’Neill

eu-woody

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

 

Fernando Pessoa

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

 

Carlos Drummond de Andrade